Estudante de Ciências Econômicas é mais feliz?

Sorria, você está sendo estudado

O artigo original é este. Os autores, Haucap e Heimeshoff, doravante Haucap & Heimseshoff (2014), fizeram um estudo econométrico interessante sobre a “felicidade” dos economistas. O artigo já está aprovado em um journal da área. O que eles fizeram (não vou citar as páginas porque o link está aí)?

This is the first paper that studies the causal e§ect of studying economics on subjective well being. Based on a survey among 918 students of economics and other social sciences, we estimate the effects of studying in the different fields on individual life satisfaction. Controling for personal characteristics we apply innovative instrumental variable methods developed in labor and conflict economics. We find a positive relationship between the study of economics and individual well-being. Additionally, we also find that income and futurejob chances are the most important drivers of happiness for participants of our survey.

Ok, este é apenas o resumo. Mas você deveria ler o artigo todo. Da revisão de literatura, destaco este ponto que eu sempre acho polêmico:

In summary, there is a broad consensus and little disagreement that economists behave differently (i.e, more selfishly) and that the also hold different views and values than other people. Hence, the main question in this line of research is not so much whether economists are really different at all, but whether these differences are rather due to nature or to nurture (see, e.g., Carter and Irons, 1991; Frey and Meier, 2003; Haucap and Just, 2010; Bauman and Rose, 2011).

Como se vê, há uma literatura que afirma que economistas se comportam de forma distinta do restante da população – mas não vejo isso, ainda, como um consenso na literatura – e há um ponto, supondo que isto seja verdade, interessante sobre saber se a diferença é uma questão, digamos, genética ou de meio-ambiente, no sentido biológico dos termos.

Sorria, você está sendo estimado

A parte econométrica do artigo é outro ponto a se destacar. Estima-se uma função utilidade com um probit ordenado. O que não é trivial é que eles usam dois estágios. Aliás, citando novamente:

However, estimating instrumental variable models for ordered discrete outcomes, which woule be necessary due to the endogeneity of the field of study, is by no means trivial and by far not standard in econometrics yet. Luckily though, it is also not necessary in our case. As Angrist (1991, 2001) has shown, it is sufficient to estimate instrumental variable regressions for discrete choice models using standard two stage least squares methods (2SLS) assuming a linear probability model as an appropriate choice. Angrist (1999, 2001) has also shown that these models estimate the so-called average treatment effect very well. Based on these considerations, we use 2SLS estimations as our basic regressions.

Bacana, né? Os resultados?

happy

Bem, como em outros trabalhos, a religião tem um impacto sobre a satisfação dos estudantes da amostra (eu e meus co-autores já achamos algo assim, em outros trabalhos, na área de Economia da religião e também na do Crime (embora eu tenha os links, parece que alguns estão desatualizados, mas não é difícil você encontrá-los por aí, online). Outro resultado legal é a importância da renda relativa sobre a felicidade. A renda, em termos absolutos, não é tão importante, mas ter uma renda melhor do que outrem o é (não sou muito conhecedor da literatura, mas acho que existem trabalhos que mostram isto com alguma frequência).

Sorria, você chegou ao final do texto

Finalmente, a conclusão:

To conclude, while income, religion, and future job perspectives are important drivers of individual life satisfaction for students in our sample, studying economics also increases students’self-reported well-being – at least some good news for all teachers of economics.

Será que os resultados dos autores são válidos para outras amostras? Meus alunos de Econometria III já conhecem o conceito de validação externa de modelos de regressão. Eis uma pesquisa que gostaria de fazer com alunos brasileiros. Aliás, conhecendo vários dos meus amigos economistas de outras faculdades, não duvido que haja alguém trabalhando nisto.

P.S. Por que você e sua turma de Economia não fazem um video como este do Williams? Caso o façam, publico o link aqui. ^_^