Exercício de Microeconomia simples: só tem restrição orçamentária

Vamos estudar Microeconomia para que, afinal??

Para que serve o que você estuda? O pessoal do Nepom já me falou que tem aprendido um bocado com a prática do dia-a-dia do Nepom. Mas, e quanto à Microeconomia? Bem, veja só a propaganda que recebi hoje em meu inbox. Eles não me patrocinam e, portanto, não vou colocar nenhuma figura por aqui.

Entretanto, vejam só as iscas para o consumidor.

1. Comprou mais de R$ X,00, ganha um livro.

2. Um amigo seu comprou lá pela primeira vez, você ganha Y% de desconto.

3. No mês de seu aniversário, você ganha um desconto Z% em suas compras.

4. Nas compras acima de R$K,00, eles parcelam em “J” vezes.

Quer saber se você entendeu Microeconomia que viu em sala? Ué, então explique-me como fica a escolha do consumidor em cada caso. Em outras palavras, quais são as mudanças de incentivos que acontecem aqui?

Para fazer isto, basta fazer algumas hipóteses. De cara, eu já iria trabalhar com dois bens: livros e gastos com outros bens. Simultaneamente, eu pesquisaria sobre o termo (minha sugestão está aqui).

Vamos comprar livros!

Agora, pense nos itens da promoção. O primeiro é o que menos me apetece. Sei lá que livro vou ganhar? No entanto, você revender o livro, não é? Então, ela é como um aumento na sua restrição orçamentária. Bem ou mal, é isto. Desconte os custos de vender o livro e você tem algum dinheiro adicional.

O segundo me parece simples. Basicamente, há um problema que é o custo de oportunidade do tempo gasto para convencer seu amigo a comprar um livro. Uma vez que ele compra, sua restrição ganha um desconto não-cumulativo. Esta me parece trabalhosa também. Mas não é difícil ver o que acontece: momentaneamente a restrição teria uma outra inclinação, certo?

O aniversário, sempre ele. O terceiro item é como o segundo, com a vantagem que você não tem que fazer nada…exceto vender seu cadastro para a livraria. Talvez seja a opção com menor custo de oportunidade do tempo. Claro, se você é um destes caras sem amigos, melhor ainda: ganha desconto sem ter que convencer alguém.

A última opção pode ser imaginada (como não estudamos – estou pensando em meus alunos de Micro III) como uma mudança para cima na restrição orçamentária (jeito simples, mas efetivo de se imaginar o parcelamento). Afinal, vale para a compra de qualquer livro em qualquer quantidade. Na verdade, deveríamos pensar no juro embutido, mas observa-se que muitos apenas encaram o parcelamento como um “cabe no meu bolso” simples.

Repare que, em todas as opções, há um alargamento da restrição orçamentária do consumidor. Faz sentido? Bem, se você acredita que consumidores são racionais e que buscam maximizar seu bem-estar e também que empresários querem maximizar suas utilidades respectivas, por sua vez dependentes de seus respectivos lucros que, claro, também querem maximizar…sim, faz.

Você pode me falar que todos são loucos, que pessoas têm traumas, complexos, déficit de atenção. Não importa. Ainda assim, na média, experimente enviar uma promoção destas pelo email e você obterá alguma resposta e, claro, ela será na direção indicada pela Teoria Econômica. Aliás, foi exatamente isto que a livraria fez me enviando este texto. Só que, no meu caso, eu ainda usei o texto deles para gerar outro produto que é o interesse do aluno em Microeconomia.

Será que alguém tem outra idéia? Será que alguém leu isto aqui? 

Bom, oferta feita, falta ver se a demanda aparecerá ou se ficará na prateleira. Afinal, quando o post não é de aluno, neste blog, os vizinhos, colegas, namorados, namoradas, cachorros, papagaios e colegas não aparecem para ler. Bom, mas a prova tá chegando, né? Quem sabe?

Agora, vou ser sincero: não tem nada melhor do que ficar analisando estas promoções com nosso instrumental teórico. Dá para conversar muito sobre isto, partindo de rascunhos como este, que fiz aqui. Aliás, ontem eu falei e vou repetir, esta história de estimar demanda é algo que, se o aluno não curte, deveria mudar de curso rápido. É um dos pontos mais comuns de atenção de administradores e de economistas.